domingo, 7 de julho de 2013

O Imigrante (1917) - Charlie Chaplin



O Imigrante (The Immigrant), é um filme que conta a ida de um pobre imigrante, oriundo da Europa, para os Estados Unidos da América. Interpretado e realizado por uma das grandes lendas do cinema, Charlie Chaplin, nele estão os condimentos que celebrizaram o londrino como uma das maiores figuras da história da 7ª arte: A atuação exagerada, o humor e a inteligência com que a história é contada, numa altura em que a palavra ainda não fazia parte da arte cinematográfica.

O filme divide-se em duas partes: a viagem de barco e as primeiras horas do imigrante no país. Prontamente, a cena inicial revela que a viagem será de grande agitação, literal e simbolicamente, com o ator a surgir de cabeça para baixo na borda de um barco que se inclina para os lados com a corrente do mar. A hora do almoço classifica o tipo de imigrante (pobre e esfomeado) que ali se encontra, pois correm de forma desenfreada para o refeitório e o personagem de Chaplin chega mesmo a comer da mesma tigela, à vez, com o homem à sua frente, aproveitando o movimento do barco. É também neste segmento que ele se apaixona pela personagem de Edna Purviance, a sua eterna companheira nos filmes.

Segue-se uma advertência do realizador para "mais agitação" e, quando se pensa que o barco vai baloiçar ainda mais, a agitação provém da confusão gerada por um jogo a dinheiro. Com vitória de Chaplin, um dos tripulantes aceita mal a derrota e age com violência, primeiro, para depois roubar, e perder, o dinheiro da mãe de Edna, uma senhora idosa e doente. Chaplin, ao ver a Edna a chorar, decide colocar o dinheiro no seu bolso, mas é visto pela autoridade, que pensa que ele está a roubar. Na sequência, surge um pormenor de realização interessante, que se viria a repetir mais à frente do filme: Quando o ator passa uma esquina, o rumo da história também se altera. Neste caso, quando Chaplin a passa entra no campo da autoridade, que já o esperava do outro lado. Outro pormenor interessante está presente na chegada aos Estados Unidos. Os tripulantes, fascinados, começam a ver a Estátua da Liberdade, mas, contrastando com aquele símbolo, são amarrados, ou presos, com uma corda, para melhor os organizarem no momento de desembarcar.

Já na América, e depois de achar uma moeda no chão, Chaplin vai a um restaurante e é visível como o local lhe é estranho, pois não consegue manter uma postura correta. Ainda assim, numa tentativa ingénua de se comportar corretamente, começa a comer os feijões um por um. Chaplin acaba por lá reencontrar Edna e, pelo choro e a roupa escura da imigrante, percebe-se que a sua mãe teria morrido. Pouco depois, um cliente que não teria todo o dinheiro para pagar a conta é agredido pelos funcionários e é destacado o seu chapéu, no chão, como demonstração da perda de dignidade. O plano que o realizador faz dessa cena, revela que o seu personagem vê aquilo que lhe poderia acontecer se também lhe faltasse o dinheiro. Isso fá-lo pensar, prontamente, se o teria e depressa percebe que perdeu a moeda assim que a achou, pois o seu bolso estava roto, e outro pobre aproveitou a moeda para também ir ao restaurante. Contudo, o funcionário que a recebe também a deixa cair, aludindo o realizador ao seu bolso igualmente roto, remetendo-o para a classe social de Chaplin. Aliás, essa comparação é recorrente. Além do bolso, também a falta de compostura, de regras ou maneiras, também é alvo da comparação. Se o imigrante, inocentemente, não tem maneiras para comer num restaurante, o empregado não é melhor e não as tem para o servir.

Chaplin viria, então, a apanhar a moeda. No entanto, o funcionário, preconceituoso, confere se é real (o que não tinha feito para o outro pobre que pagou com ela) e descobre que é falsa, pois ela dobra-se. Para sorte de Chaplin e Edna, aparece um artista que os pretende contratar e que, ao pagar a sua própria conta, deixa uma gorjeta alta o suficiente para que Chaplin, com ela, consiga pagar a sua. A finalizar o filme, outro pormenor interessante, marcado pelo cruzar de uma esquina: Ao entrarem na nova rua, que fazia esquina com a do restaurante de onde tinham acabado de sair, fazem-no já noivos, ao cruzarem-na. Nessa rua havia um registo civil e acabam mesmo por se casar. Um filme com humor, mas socialmente muito crítico e a fazer eco de uma realidade que é transversal aos mais de 90 que nos separam desta obra do génio de Chaplin.


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