terça-feira, 9 de julho de 2013

Easy Rider (1969) - Dennis Hopper



Easy Rider (Sem Destino, em Portugal) é um dos grandes clássicos do final dos anos 60 e inicio dos anos 70. Realizado por Dennis Hopper, um dos personagens principais, e escrito por ele, Terry Southern e Peter Fonda - o outro personagem principal - foi dos primeiros filmes independentes e o primeiro dessa categoria a ser distribuído por uma grande companhia, a Columbia Pictures. Classificado de "filme de baixo orçamento", com um investimento a rondar os 400 mil dólares, depressa se tornou num sucesso em todo o mundo, rendendo milhões, e tornando-se num filme de culto até aos dias de hoje. Foi também em Easy Rider que Jack Nicholson teve o seu primeiro grande papel, catapultando a sua carreira para uma das mais bem sucedidas na história do cinema e garantindo uma nomeação para o Oscar de melhor ator secundário.

O filme começa com a compra de droga no México, e a posterior venda já em solo americano, que daria dinheiro necessário para eles serem livres e chegarem a Mardi Gras, uma festa carnavalesca de New Orleans. Na cena da venda, junto ao aeroporto, o barulho turbulento da chegada dos aviões parece perspetivar a turbulenta viagem que estão prestes a iniciar. Segue-se a passagem em que Wyatt (Peter Fonda) guarda o dinheiro na sua lendária chopper - que tem hoje uma réplica no museu da Harley Davidson, tal como a de Billy (Dennis Hopper) - e essa cena é acompanhada pela primeira música do filme: The Pusher dos Steppenwolf. A banda sonora viria a tornar-se um dos destaques de Easy Rider e, além desta, podem ouvir-se ainda outros nomes clássicos do rock sessentista como Jimi Hendrix, The Band ou The Byrds. Ainda assim, o destaque fica para Born To Be Wild dos Steppenwolf, um hino para os motards e um clássico intemporal do rock.

Um dos atos mais simbólicos do filme acontece logo após. Prestes a iniciarem viagem, Wyatt livra-se do seu relógio, pois eles procuravam liberdade e as pessoas vivem "escravas" das horas e do tempo. Já no inicio do caminho, fruto do seu visual, Billy e Wyatt são pela primeira vez vítimas de preconceito ao serem ignorados pelo dono de uma pensão. O seu visual despertava ainda a curiosidade de todas as crianças que os viam, com o realizador a destacar as que correm para vê-los quando chegam à fazenda, onde são bem acolhidos, e ainda uma criança que os observa pela janela da bomba de gasolina onde abastecem. Elas viam neles algo fascinante, diferente, e, eventualmente, uma influência para uma futura mentalidade menos conservadora do que a das gerações anteriores.

A meio da viagem, depois de serem presos, conhecem George Hanson, um advogado alcoólico que acaba por tirá-los da prisão. Este personagem de Jack Nicholson viria a ser importante na revelação de vários males da sociedade americana e, logo na primeira conversa, revela que foram "usadas navalhas nos dois últimos cabeludos que prenderam", só por serem diferentes das pessoas daquela cidade que desejavam que todos tivessem cabelo curto. Na mesma conversa, meio a brincar, revela o estado de racismo na justiça ao dizer que só ficariam ali se tivessem matado alguém que não fosse branco. É igualmente interessante quando diz que estão todos na mesma "gaiola", uma frase que tem um alcance mais profundo do que simplesmente descrever onde estão, pois também ele vivia preso nos preconceitos da sociedade. À saída da esquadra, a policia recebe dinheiro de George, numa alusão à corrupação nas autoridades, e o advogado revela ainda o endereço de um bordel, no Mardi Gras, que havia sido fornecido por um governador, numa crítica à moral das altas instâncias.

Assim, procurando igualmente libertar-se, George segue viagem com os dois motards. Juntos irão sentir na pele, literalmente, o conservadorismo e o preconceito presentes nas regiões por onde passam. Não conseguiam sequer alugar um quarto e era nas conversas que tinham à noite, à volta da fogueira, que George apontava as raízes do mal da sociedade. Na noite em que é introduzido à marijuana, e após Bill supostamente ter visto um ovni, George diz que eles, os extraterrestres, são uma sociedade mais evoluída pois lá não existem guerras, nem sistemas monetários, e cada homem é o seu próprio líder. Na última região que visitam com George são novamente vítimas de preconceito quando num restaurante são provocados por habitantes homofóbicos e racistas, entre os quais a policia, que chegam a dizer que os motards nem "passariam no teste de gente". Nessa noite, George diz que essas pessoas não têm medo deles, mas do que eles representam; e eles representavam a liberdade. Já os que os julgavam viviam refugiados na frustração, na cobardia e no medo de serem livres. Como tal, "até matariam para provar que são". E assim seria, com a agressão aos dois motociclistas e o assassinato de George nessa noite.

Já sem ele, conseguem mesmo chegar a Mardi Gras. Vão ao bordel indicado por George e usam o LSD que lhes tinha sido dado pelo hippie a quem tinham dado boleia. Após esse momento, que teria sido o culminar do sonho, Wyatt diz que eles "estragaram tudo", após Billy se ter congratulado por finalmente "terem conseguido". Essa cena é das mais enigmáticas do filme e deu origem a várias interpretações. Uma delas pode ser o facto da liberdade ter sido conquistada com "dinheiro fácil", fruto da venda de droga. Wyatt, durante a viagem, gaba a sorte do fazendeiro que tem a sua própria terra para cultivar e após Billy se ter mostrado cético em relação às plantações dos hippies, diz quase filosoficamente que "eles conseguirão". Eles talvez, mas Billy e Wyatt não, porque estariam a tentar comprar a liberdade de forma desonesta e, daquela forma, o seu interior nunca mais seria livre. No final do filme acabam por ser alvejados por camionistas preconceituosos. Supostamente, chegou-se a equacionar uma continuação da história, por isso era possível a ideia de sobrevivência. No entanto, até pela visão da cena final que Wyatt tem, com a sua mota em chamas, quando no bordel lê que "a morte apenas fecha a reputação de um homem e determina se é boa ou má", é provável que tenham mesmo morrido.

Em ano de Woodstock, Easy Rider aliou a aventura e as belas paisagens, a uma crítica social forte e a uma lição importante quando se parte na busca de um sonho...

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