quarta-feira, 3 de julho de 2013

Freaks (1932) - Tod Browning



Freaks foi um dos filmes mais polémicos da história do cinema. Mal recebido pela critíca, mal sucedido nas bilheteiras e sem o apoio da produtora, viria mesmo a custar a carreira a Tod Browning, que entraria numa fase descendente após a sua exibição. O seu conteúdo, naquela época, e apesar de várias cenas terem sido removidas, foi considerado excessivo e proibido em vários estados dos Estados Unidos e em outros países, com destaque para o Reino Unido onde apenas foi exibido trinta anos depois.

O motivo de tão forte impacto, prende-se, sobretudo, com a carga visual das personagens. Freaks retrata um circo em que a maioria dos seus artistas tem algum tipo de anomalia ou deficiência, que o realizador, que em temos também trabalhou em circos, faz questão de realçar com planos próximos. Havia desde a mulher sem braços, siamesas, homem sem braços ou homem sem braços e pernas, anões, gagos, mulher de bigode ou até o artista que era metade homem e metade mulher. A grande particularidade é que muitos desses atores representavam-se a eles mesmos

Além destes, haviam também os considerados "normais" e é à volta da relação de uma mulher "normal" com um anão que se desenrola a história. Freaks inicia com a apresentação da "maior monstruosidade viva de todos os tempos", que tempos havia sido uma "linda mulher", e cujo aspeto só é revelado no final. O realizador recorre depois a uma analepse, que contará a história por detrás daquele mistério, com um corte para o aspeto da mulher como ele era no passado. Resumidamente, o pequeno Hans, noivo de Frieda (sua irmã na vida real), apaixona-se por Cleopatra, uma "mulher grande". No entanto, Cleopatra apenas se aproveitava dos sentimentos de Hans para conseguir alguns presentes, intenção que se acentua assim que descobre que ele é o herdeiro de uma grande fortuna, o que a levou a desejar um casamento. Paralelamente, mantinha uma relação com Hércules, um homem forte, que contrastava de forma bastante acentuada com os outros artistas daquele circo, pois se eles tinham anomalias físicas, Hércules era ainda mais dotado que o comum dos mortais.

A festa do casamento marca um ponto importante no decorrer do filme, pois revela as diversas dicotomias nele presente. Enquanto os "freaks" fazem um ritual de aceitação a Cleopatra, cantando "one of us", ela recusa-os com nojo, raiva e repulsa; Enquanto Frieda chora ao ver Hans ser humilhado, mesmo depois de ser trocada por ele, Hércules ri-se da sua amante, em jeito de troça, quando é iniciado o ritual; Enquanto os "freaks" representavam o bem, os "normais" representavam o mal. É nesta cena, ainda, que Cleopatra beija Hércules na frente de todos e começa a envenenar Hans, o que viria a originar mais tarde a reação daquela comunidade cujo código era "ofendem  um, ofendem todos"

Mais tarde, quando Hans descobre que está a ser envenenado pela mulher com quem se casou, decide juntar os seus amigos, os "freaks", para se vingar. Hans só queria o frasco do veneno, mas os seus companheiros atacaram Cleopatra, num cenário propositadamente de terror, e deixaram-na naquilo que é desvendado no final do filme, quando finda a analepse. Também Hércules sofreu a ira daqueles a quem desprezava e foi capado (contudo essa cena foi removida da versão final). A grande moral que Freaks pretende transmitir é que os verdadeiros "freaks", no fundo, eram Hércules e Cleopatra. Mesmo com deficiências, todos os outros artistas, ao longo do filme, casavam, tinham filhos, amavam, brincavam, apaixonavam-se... E não é por acaso que o realizador destaca e inclui esses acontecimentos na película. Assim, a grande anomalia estava no interior de quem não se comportava como um verdadeiro ser humano.

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